Bruno Franques, 20 de outubro de 2012
Publicado originalmente no blog primaveradegaia.wordpress.com
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Resumo:
Este artigo traça um panorama do processo do Fórum Social Mundial, um breve contexto histórico e seus recentes desdobramentos em Fóruns Locais mundo afora, identificando os precedentes que nos impulsionam à articulação do Fórum Social Sorocaba. Paralelamente, indicaremos que a Cúpula dos Povos revela que a intensificação da crise ambiental pode funcionar como um grande tema aglutinador capaz de fomentar a articulação de movimentos sociais militantes em diferentes áreas.
Palavras-chave: Fórum Social Mundial, Cúpula dos Povos, movimentos sociais, meio ambiente, anarquismo.
Abstract: This paper presents an overview the World Social Forum process, a brief historical background and its recent developments in Local Fóruns worldwide, identifying the precedents that drive us to the articulation of the Social Forum Sorocaba. In parallel, we will indicate that the People’s Summit reveals that the intensification of the environmental crisis can act as a great unifying theme able to foster the articulation of social movements militants in different areas.
Key-words: World Social Forum, the People’s Summit, social movements, environment, anarchism.
INTRODUÇÃO
Este artigo é resultado parcial das investigações relativas à pesquisa em curso empreendida para a dissertação de mestrado “Educação Libertária, Política e Meio Ambiente: Um alinhamento que se esboça na alvorada do século XXI” [2]. Nosso objeto-sujeito, a Cúpula dos Povos ante a Rio+20[3], sob nossa ótica, revela um inédito alinhamento entre diferentes Movimentos Sociais e a esquerda mundial[4] no contexto da globalização, no início do século XXI, que seria potencializado por uma grave crise civilizacional[5] e por um iminente colapso ambiental planetário[6].
Como nossa pesquisa abrange uma quantidade razoável de temas que facilmente se desprenderiam em dissertações independentes, nos lançamos ao desafio de nos debruçar sobre cada um destes aspectos circundantes ao nosso objeto em artigos que, mesmo ainda inacabados, os privilegiem, aproveitando as oportunidades geradas por encontros acadêmicos para estimular o debate sobre as questões inerentes a fim de dinamizar o caráter dialógico da pesquisa.
O que está posto no centro do presente artigo é o Fórum Social Mundial (FSM), e em seu entorno passaremos por um breve panorama de sua constituição, seus desdobramentos locais e a possível incorporação da temática ambiental na pauta dos movimentos e organizações que o constituem.
O FSM pode ser rapidamente definido a partir de sua origem, como contraposição ao neoliberalismo e seu principal espaço de articulação internacional, o Fórum Econômico Mundial, que acontece anualmente em Davos, nos Alpes Suíços. Enquanto os seletos políticos e empresários que se encontram a portas fechadas em um resort definem – a partir de seus interesses individuais, da lógica da exploração e do lucro -, os rumos que serão impostos à política planetária. No encontro onde o “Social” substitui o “Econômico” o debate é dialógico, autogestionado, aberto à participação e tem como premissa o respeito à diversidade de povos, aos movimentos, opiniões e posições ideológicas. Os movimentos sociais do mundo inteiro que participam desse novo espaço de articulação têm em comum a clara identificação do atual sistema hegemônico, o capitalismo neoliberal, como a causa que empurra a humanidade e o planeta ao abismo e contra a qual unimos nossas forças.
Na Carta de Princípios do Fórum Social Mundial há uma série de diretrizes que dizem respeito principalmente à manutenção do Fórum como espaço internacional de articulação da sociedade civil, aberto, múltiplo, diverso, apartidário, horizontal e permanente. Vale a pena uma leitura atenta dessa Carta de Princípios, pois se trata de um legítimo manifesto à diversidade e à construção de um novo mundo, e por isso, a reproduzimos em anexo. O projeto utópico do FSM, que privilegia o discurso ético evidente em sua Carta de Princípios significa, segundo Boaventura de Souza Santos, a “reemergência de uma utopia crítica, isto é, a crítica radical da realidade presente e o desejo de uma sociedade melhor.” (SANTOS, 2005, 16).
Esta apresentação, apesar de ser construída como uma continuação do discurso de tantos outros que articulam também este processo, e que nos trouxeram até aqui, é, no entanto, de minha responsabilidade. Pode parecer banal destacar que o FSM é um espaço, portanto não é um movimento nem uma entidade institucionalizada. Mas desta característica simples e primordial, decorre que ninguém está autorizado a falar pelo Fórum, como também ninguém o representa. Não temos líderes nem diretores. O Fórum Social Mundial, e os Fóruns Locais que buscam se aproximar dos cidadãos e cidadãs e das questões mais práticas e locais da vida em sociedade, são espaços abertos de articulação, processo e instrumento da mudança que os cidadãos e cidadãs implementarão no mundo.
Penso que seja prudente explicitar meu envolvimento como militante e ativista das causas referidas[7]. Tanto minha pesquisa de mestrado quanto os artigos que me disponho a produzir como etapas do processo investigativo são permeados por meu envolvimento como militante neste contexto. No entanto, acredito que o estudo acadêmico não sofrerá interpelações redutoras ou censuras dogmáticas, nem tampouco será dirigido à resposta supostamente pretendidas, muito pelo contrário. Trata-se de uma investigação crítica e práxica. Estou convencido de que quanto mais estiver aberto às situações não esperadas que a investigação revele, mais eficaz será minha ação enquanto ativista. Não estou aqui para legitimar nenhuma ação, atitude ou direção, mas para produzir conhecimentos epistemológicos que nos auxiliem a compreender a realidade em que atuamos[8].
Antecedentes do FSM: A EVOLUÇÃO DAS ESQUERDAS[9]
As esquerdas mundiais passaram por crises muito profundas, primeiro, na Europa nos anos 1960 quando ficaram evidentes (BENSAID, 2010) e irrefutáveis as atrocidades do socialismo autoritário, representados pelas figuras de Stálin[10] e Mao[11], depois, em fins de 1980 e início da década seguinte com o desmantelamento da URSS[12].
Na América Latina apesar do êxito da revolução Cubana ter impulsionado a força das organizações da esquerda revolucionária no continente, a intervenção dos EUA orquestrando os golpes de estado junto com as burguesias militares locais que instalaram suas ditaduras a partir de 1964 no Brasil, se espalhando por todo o continente na década seguinte, bloqueou abruptamente o que poderia ter se tornado uma empolgante primavera de grandes proporções (LOWY, 1999; SADER, 2012).
Tanto os exilados com a diáspora da esquerda latino-americana, que seguiu aos violentos golpes, quanto os que lutaram pelas diversas vias, da legalidade à luta armada, criaram fortes expectativas onde depositavam todas suas esperanças e que diziam respeito ao mundo que construiriam quando tivessem restauradas suas democracias. No início da década de 1990, no entanto, o fim dos regimes ditatoriais de direita tiveram contexto com o fim da Guerra Fria e a vitória do Capitalismo, e as sociedades da AL, com a “democracia” nas mãos, ao invés de progressistas de esquerda, optaram por eleger políticos da estatura de Collor, Menem, Fujimori e Chamorro. (MADURO, 1994)
Não obstante, é com muito entusiasmo que notamos em ambos os períodos, contrastando com a desilusão generalizada de um primeiro olhar histórico[13], que acontecimentos extraordinários foram deflagrados, colocando em marcha um movimento que no início do século XXI nos enche de esperanças.
Lembremos o turbilhão de acontecimentos que povoaram o ano de 1968 (BENSAID, 2008; ALI, 2008) no mundo inteiro, dos Hippies estadunidenses, passando pelas barricadas do maio parisiense, chegando ao recrudescimento da resistência armada brasileira. Se a fragmentação da luta da esquerda mundial gerou o fim da esperança pela composição de uma Frente Única (LENIN, 2004; TROTSKY, 2011), que não obstante estava muito longe de ser atingida, ela fez germinar a semente da revolução em grupos sociais até então relegados, colocados em segundo plano pela concepção do protagonismo do operariado na Revolução Socialista (MALATESTA, 2009). Assim, intensificaram e ganharam força os chamados novos movimentos sociais, constituídos pelos movimentos ecológico, feminista, LGBTS, negro, camponês, dando possibilidade de organização e voz à minorias de todos os tipos, abrindo caminhos de sensibilização dos oprimidos a partir das diversas facetas da opressão, ampliando seu escopo de ação para além da luta de classes (GOHN, 2011, p. 249) [14].
“Para educar o povo, habituá-lo à liberdade e à gestão de seus interesses, é preciso deixá-lo agir por si mesmo, fazer-lhe sentir a responsabilidade de seus atos.”
(MALATESTA, 2009, p. 71)
Esse processo leva gradativamente os povos oprimidos a prescindirem de representação na luta por seus direitos. Exemplos não faltam e vem surgindo diversos estudos sobre tal fenômeno. Do hip-hop e saraus das periferias urbanas às mídias manejadas diretamente por membros de comunidades indígenas as pistas estão dadas e um olhar mais atento revelará um crescente protagonismo dos povos oprimidos que lutam por sua própria representação[15]. Tal fenômeno pode ser compreendido a partir de diversas abordagens, como se acompanharmos o desenvolvimento da antropologia, que tem em seu início uma postura positivista e antropocêntrica, cujo resultados apesar de serem enviesados pelo mito da imparcialidade eram utilizados no mundo político para sua colonização e submissão (SAHLINS, 1988; SILVA, 2006). Com a evidência desse desastroso uso do conhecimento gerado de forma compartimentada, os antropólogos vão lançando inovações tanto no sentido da produção compartilhada do conhecimento, quanto no planejamento conjunto e “empoderamento” dos povos estudados para sua defesa e luta pela emancipação social e cultural (SILVA, 2006; MCDOUGALL, 1998; BARBOSA, 2006).
Detendo-nos na próxima crise, considerada tão devastadora para a esquerda mundial que permitiu à direita oportunista proclamar um suposto “fim da história”[16], constatamos o que hoje pode ser considerado como um marco na luta dos povos oprimidos da AL e talvez o ato inaugural do movimento altermundista. Trata-se das mobilizações que reuniram inúmeros Movimentos Sociais em uma articulação que se projetava à todo o continente onde impuseram o que intitularam como “Quinhentos anos de resistência indígena, negra e popular”, contra as comemorações pelos quinhentos anos do “descobrimento”, que os governos neoliberais da região, apoiados pelos governos Ibéricos, articulavam placidamente celebrar em 1992 (PIÑERO, 2012, p. 7). Deliberadamente ignoravam o massacre dos povos originários e planejavam festejar a data como os primórdios da globalização. Exaltariam a vitória da civilização contra a barbárie, mas não puderam ocultar a barbárie de sua civilização. A partir de então uma série de eventos marcam o processo de globalização da luta contra o neoliberalismo, donde podemos destacar em 1994 o levante Zapatista, que denunciava a IV Guerra Mundial em curso no processo de globalização neoliberal, ampliado em 1996 com o 1º Encontro Intercontinental pela Humanidade e Contra o Neoliberalismo[17]. Dois anos depois, em Genebra, os diversos movimentos sociais lançam uma frente de ação conjunta, a Ação Global dos Povos, iniciando uma série de “campanhas populares e “ações diretas” em resistência ao “capitalismo” e para justiça ambiental e social”[18].
“Façamos com que aqueles que morrem de fome e frio compreendam que seus sofrimentos são incompreensíveis ante lojas repletas de mercadorias que lhes pertencem… Quando se produzirem revoltas espontâneas, como amiúde ocorrem, acudamos e tratemos de dar uma consciência ao movimento, exponhamo-nos ao perigo e permaneçamos com o povo. Uma vez no caminho prático, as idéias virão e as oportunidades se apresentarão. Organizemos, por exemplo, um movimento para não pagar aluguéis; façamos os camponeses compreenderem que eles devem armazenar toda colheita, ajudemo-los se pudermos, e se os ricos e os policiais condenarem o ato, estejamos com os camponeses. (…) Enfim, que cada um faça todo o possível, segundo a situação que ocupa, tomando sempre como ponto de partida as necessidades imediatas do povo e sempre estimulando nele novas aspirações.”
(MALATESTA, 2009, p. 107)
Aqui se intensifica uma trajetória, que tenha talvez sido de fato iniciada justamente em maio de 1968 e, seguindo para a Batalha de Seattle em 1999[19], vemos florescer neste novo século os encontros do Fórum Social Mundial[20], iniciados em 2001 e que nos trazem até o simbólico encontro da Cúpula dos Povos em 2012.
Como é mais evidente nos momentos importantes, palcos de grandes acontecimentos sociais, oportunidades raras em que a inteligência coletiva (LEVY, 2003) vem à tona, as trajetórias sociais são compartilhadas pela comunidade e se manifestam dialeticamente em diversos aspectos, instituições e áreas do pensamento e do conhecimento, que inclusive forjam as condições para que o acontecimento em questão se materialize. Como no período inaugural da era moderna, com as Revoluções Francesa, Industrial e Americana, onde antes de tomarem as ruas as bandeiras da liberdade, igualdade e fraternidade foram iluminadas por uma ética protestante que juntos preparavam os espíritos para o triunfo da burguesia (PIERUCCI, 2003), maio de 1968 e o início dos anos 1990 também foram palco de uma série de acontecimentos que dialeticamente preparavam o que estava por vir. Se o período moderno foi precedido pelo desencantamento do mundo (WEBER, 1996) e identificado com o Capitalismo (SANTOS, 2011), o período pós-moderno é precedido por um reencantamento do Mundo e é identificado com o Anarquismo.
O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Nas apresentações públicas que faço para introduzir o contexto do processo que deu origem ao Fórum Social Mundial, costumo exibir o trailer do filme “A Batalha de Seattle”[21] para entrarmos no clima. Trata-se de uma representação ficcional sobre as manifestações que bloquearam as negociações que o grupo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), pretendia realizar para legitimar uma espécie de Constituição Mundial do Capital e que iria impor aos países legislando sobre as relações internacionais de todos. O sucesso dos protestos nas ruas de Seattle, que conseguiu bloquear e inviabilizar o encontro que foi cancelado, mostrou ao mundo a força que os movimentos sociais podem ter quando atuam em sintonia. Os próximos encontros internacionais organizados pela cúpula da Organização Mundial do Comércio, conhecidos como Fórum Econômico Mundial aconteceriam em Davos, nos Alpes Suíços, garantindo a restrição do acesso e impossibilitando que novos protestos atrapalhassem seus acordos totalitários.
Em contraposição à esta organização piramidal do mundo neoliberal, diante da conjuntura que se estabeleceu, a criação de um Fórum Social Mundial nos moldes acima descritos parece-nos hoje a evolução natural da articulação da sociedade civil face ao tipo de globalização que é imposto ao mundo. Oded Grajew e Chico Whitaker foram os ativistas que formularam a idéia original do Fórum e que lançaram sua construção para toda a sociedade, convidando os movimentos sociais a assumirem a articulação do espaço público que seria criado. Indico a leitura de “O desafio do Fórum Social Mundial: Um modo de ver”, ótimo livro em que Chico Whitaker relata o processo de nascimento do FSM até 2005 (WHITAKER, 2005).
Apesar de ter se estabelecido Porto Alegre como a cidade-sede do FSM, sua internacionalização foi assegurada pela decisão de se intercalar encontros centralizados na capital gaúcha com encontros descentralizados pelos 5 continentes. Dessa estratégia, resultaram iniciativas que preenchem o calendário com etapas preparatórias onde se estabeleceram Fóruns Regionais regulares. Países de todos os continentes já foram palco destes encontros com desdobramentos em espaços ainda mais localizados, articulando os temas e experiências do FSM em etapas que reunem movimentos sociais, coletivos e entidades atuantes diretamente em determinadas cidades e seus arredores.
Essas iniciativas, a princípio articuladas espontaneamente ou consideradas como etapas preparatórias do encontro centralizado foram ganhando importância na medida em que a instância local mostrou-se tão necessária quanto a experiência internacional. É o famoso adágio da globalização, pensar global e agir local, que se volta contra o próprio sistema que o criou.
Durante o percurso, outro fator indica para a mesma direção. O exponencial sucesso do FSM atrai números cada vez mais vultuosos de participantes, e o encontro que iniciou como uma articulação entre movimentos, coletivos e entidades, rapidamente passou a configurar um espaço em que se reúnem tanto os que já atuam de maneira organizada quanto os que estão iniciando seu envolvimento com o processo de mudança da ordem vigente.
Aos poucos os participantes do FSM começaram a perceber que mesmo com a entrada de novos atores e com as etapas regionais estabelecidas, sua atuação ainda estava circunscrita aos que já estão convencidos da opressão em voga.
O componente que faltava se apresentou com mais ênfase quando surge em 2011 explosões populares organizadas de maneira rápida e horizontal, integrando muitos indivíduos que ainda não atuavam nos movimentos sociais, coletivos ou entidades não governamentais. A Primavera Árabe no Norte da África, o 15M e os Indignados na Espanha, o Occupy Wall Street nos EUA, o Ocupa Sampa em São Paulo, os Annonymous no mundo todo, entre outros não nomeados na Palestina, em Israel, na Grécia e no Chile ocuparam praças do mundo todo mostrando sua indignação com a ordem vigente, reivindicando democracias reais e radicais, derrubando governos e interferindo nos rumos da história. O discurso de Manuel Castells aos acampados de Barcelona (CASTELLS, 2011), a fala de Slavoj Zizek aos de Wall Street (ZIZEK, 2011) e o livro “Occupy: Movimentos de protesto que tomaram as ruas” compilação recém-lançada pela Boitempo, contextualizam muito bem tal efervescência das praças de 2011 (SADER, 2012).
A partir do compartilhamento destas experiências com o contato que pudemos estabelecer durante o Fórum Social Temático no início de 2012 com muitos dos protagonizaram a citada efervescência social do ano anterior, confirmamos e ampliamos as diretrizes que indicam a criação de Fóruns Locais com vistas à proporcionar a integração dos movimentos, coletivos e entidades aos cidadãos e cidadãs indignados. Assim, em articulação com os protagonistas das praças de 2011, os participantes do FSM intensificam uma percepção que se revelará estratégica: a de que os FSM estavam sendo palco para articulação entre os já convertidos e que era necessário ir às ruas, às praças, ao encontro da população para juntos construirmos o outro mundo. O que segue vai além e tanto os movimentos das praças passam a incorporar as diretrizes do FSM como os Fóruns Locais começam a se estabelecer em praças, focados na população do entorno. Chico Whitaker publicou no site do Fórum Social São Paulo (www.forumsocialsp.org.br) um belo texto a respeito, intitulado “Conto invertido, do fim ao começo” (WHITAKER, 2011).
Assim, chegamos à capital paulista, onde realizamos o primeiro Fórum Social de São Paulo em 2011, e em Sorocaba, com sua versão local realizada no dia 09 de junho de 2012[22]. Tanto na capital como no interior, já se articulam outros tantos encontros mais focados em regiões da cidade alternadamente às cidades do entorno. Juntos também articulamos a formação de uma Rede de Fóruns Locais através da qual desenvolvemos algumas atividades na Cúpula dos Povos, em junho de 2012, no Rio de Janeiro.
A CÚPULA DOS POVOS
Para situarmos a importância da crise ambiental para os Movimentos Sociais contemporâneos, destacamos em Seattle o protagonismo dos movimentos ambientais que desde a Eco92 já se articulavam internacionalmente em torno das urgentes questões impostas à humanidade pela degradação do Planeta. O Fórum Social Mundial surge como espaço que já se sentia necessário para que os diversos movimentos dialogassem e programassem suas ações internacionais com mais força e cooperação à luz dos ambientalistas.
A Conferência da ONU pelo Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, foi interpretada pelos movimentos sociais como mais uma investida daqueles que se consideram os donos do mundo contra os movimentos que questionam sua forma de atuação. Dessa vez a força desses que atuam em prol de menos de 1% da população mundial vem potencializada pelo que Pablo Sólon classificou como “O Golpe do Século”. Para substituir a violência bruta gerada pelas decisões totalitárias, deixam de lado os conselhos de Maquiavel e passam a atuar sob a forma de dominação que Gramsci, na década de 1930, já identificava como muito mais eficiente, justamente por exercer o controle a partir da sedução e cooptação, deixando as armas em segundo plano. Assim, identificando as sutilezas da dominação hegemônica, percebemos mais claramente como os dirigentes econômicos do mundo assumem a roupagem verde como uma máscara à seus cifrões e sob a sloganização da suposta sustentabilidade da economia verde revigoram a mercantilização dos recursos naturais mantendo seu caráter dominador e opressivo.
É diante desse quadro desolador que a sociedade civil se organiza e se levanta para mostrar sua indignação. O processo do Fórum Social Mundial deste ano de 2012 foi temáticom com o slogan “Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental”, e a sociedade civil se articulou sobre como se posicionar frente aos arranjos hipócritas da Rio+20. Os movimentos participantes do Fórum integram também a Cúpula dos Povos, que se contrapõe à Rio+20 da mesma maneira que o FSM se contrapõe ao Fórum Econômico Mundial.
É importante chamar a atenção para esta contraposição para que fique muito clara a distinção entre os dois eventos que aconteceram simultaneamente no Rio de Janeiro em junho de 2012. De um lado, uma organização horizontal, da sociedade civil, que proporcionou um espaço aberto, dialógico, em prol da justiça social e ambiental. De outro, à portas fechadas, figurões de ternos caros posaram para uma foto história assinando mais uma vez promessas que não pretendem cumprir e acordos que mercantilizarão ainda mais a vida e o planeta.
FÓRUM SOCIAL SOROCABA
O tema do 1º Fórum Social Sorocaba foi justamente “Rumo à Cúpula dos Povos” e os facilitadores estimularam os participantes para que as atividades fossem desenvolvidas em torno dos temas que a Cúpula traz a tona. Os facilitadores do Fórum Social Sorocaba já adiantam uma tendência de alinhamento dos movimentos e também representam localmente o Comitê Paulista Rumo à Rio+20, organização da sociedade civil que organizou os debates da etapa preparatória da Cúpula dos Povos no âmbito estadual.
ALGUNS DESDOBRAMENTOS
Os altermundistas descobriram na prática, com o amadurecimento de seu próprio movimento e em diálogo aberto constante como práxis de construção coletiva do conhecimento, o que Gramsci, a partir do cárcere à que foi confinado na Itália de 1930, já apontava teoricamente como estratégia a ser desenvolvida pelos revolucionários das sociedades ocidentais de capitalismo desenvolvido: a guerra de posições na luta pela hegemonia cultural. Diante da complexidade das sociedades modernas, os que lutam por sua transformação precisam fortalecer seu poder de persuasão e levar sua disputa para os campos de controle ideológico dominados pela hegemonia burguesa. Antes de se chegar ao controle do Estado, Gramsci aponta a necessidade de se persuadir a população que sobrevive alienada pelo controle exercido pelos aparelhos privados de dominação, principalmente a cultura, a escola, a mídia e a igreja. (GRAMSCI, 2007)
Alguns encontros realizados no processo da Cúpula dos Povos fazem eco às posições gramscianas: o próprio caráter multicultural do encontro, o Fórum Mundial de Educação e a Universidade Popular dos Movimentos Sociais[23], O Fórum Mundial de Mídia Livre[24], O Movimento Fé e Política e a Vigília dos Povos[25].
Para além destas posições privilegiadas pelo potencial de difusão ideológica e controle hegemônico, há também outras trincheiras em que os movimentos sociais vão avançando pela ação prática, o que talvez pudéssemos chamar de guerrilhas de posição, como extensão ao conceito de Gramsci, ou ação direta, a propaganda pela ação, utilizando um conceito anarquista. Para identificar tais movimentos que compõem uma diversidade bastante pujante, citamos os cinco temas agregadores propostos pelos facilitadores da Cúpula dos Povos: Direitos, por justiça social e ambiental; Defesa dos bens comuns contra a mercantilização; Soberania Alimentar; Energia e Indústrias Extrativas; Trabalho: Por uma Outra Economia e Novos Paradigmas de Sociedade.
Adicionemos ao nosso esquema as consequencias socializantes do conceito de Florestan Fernandes da “revolução dentro da ordem”, em que o sociólogo defende que as classes trabalhadoras e as massas populares devem se envolver no aprofundamento da revolução burguesa. Mesmo que concordemos com Paulo Arantes considerando já superada a fase do etapismo do desenvolvimentismo da esquerda brasileira (ARANTES, 2007), Florestan continua muito atual, justamente porque destoa de seus contemporâneos, já que apesar de reconhecer a necessidade de aceleração do desenvolvimento social, a revolução social contra a ordem capitalista dependente é, para Florestan, condição essencial para o desenvolvimento almejado. (FERNANDES, 1976: 248-9). Então, no caminho da superação do subdesenvolvimento, as consequencias socializadoras da revolução dentro da ordem tem importância estratégica:
“O proletariado cresce com a consciência de que tem de tomar tudo com as próprias mãos e, a médio prazo, aprende que deve passar tão depressa quanto possível da condição de fiel da “democracia burguesa” para a de fator de uma democracia da maioria, isto é, uma democracia popular ou operária”.
(FERNANDES, 2000: 61)
Importante convidarmos Rosa Luxemburgo para nos alertar dos perigos das “reformas” no sistema. Apesar de seu famoso combate contra os revisionistas da II Internacional, Rosa não opõe diametralmente os termos Reforma e Revolução e reconhece o papel das reformas se estiverem focadas na educação e conscientização da população em torno de um projeto de emancipação pela via revolucionária. Mas nos adverte que se tais ações forem esvaziadas da estratégia de ruptura com o sistema capitalista serão cooptadas pelo sistema que inverterá seu papel inicial, redundando na inserção da ideologia burguesa através destes mesmos meios. (LUXEMBURGO, 1999)
Não existe campo neutro de atuação onde o caminho seria percorrido sem riscos. Todos os campos de todas as áreas sofrem influências estruturais de cooptação e perda da autonomia que variam apenas de intensidade. Os partidos políticos e o mundo corporativo talvez sejam os meios mais perigosos onde o canto da sereia se apresente de maneira mais eficaz, atestado pela raridade dos que mantém intactas suas ideologias após terem por essas vias se aventurado com o intuito da transformação social a partir da esquerda. Quase sempre o fim se torna utópico, sendo confundido com uma falsa promessa de propaganda de margarina enquanto justifica todos os meios.
As ONGs já mostraram que podem servir tanto ao capital quanto para ações humanitárias e transformadoras. Os MS são no geral mais independentes, mas tendem a se aproximar de outros meios, como os partidos e as corporações, seja para viabilizar suas ações através do financiamento de seus projetos, seja para completar sua capacidade técnica. A burocracia partidária e sindical também está presente nas ONGs e nos MS, o que dificulta muito a passagem para a nova fase anti-hierárquica, participativa e autogestionada que caracterizariam por enquanto, apenas os novíssimos MS (GOHN, 2001).
“Virá o dia em que a evolução e a revolução, sucedendo-se imediatamente, do desejo ao fato, da ideia à realização, confundir-se-ão em um único e mesmo fenômeno. É assim que funciona a vida de um organismo sadio, seja ele o de um homem ou de um mundo.”
(RECLUS, 2011, p. 52)
Não obstante os riscos, os MS deste início de século conquistaram o direito de se aterem a um ponto específico de luta contra o sistema, de onde já começam a praticar a mudança estimulando a população para a viabilidade da proposta principalmente pelos resultados obtidos no presente.
Dessa postura se destaca a ética e a coerência em se aplicar em sua vida prática aquilo por que luta e defende. (RECLUS, 2011) Esse particularismo, entretanto, já tem histórico suficiente para seu amadurecimento e desenvolveu as teorias e visões de mundo que os localizam no contexto panorâmico da luta contra o sistema capitalista. (ZIZEK, 2011) Esse contexto operado a partir de seu protagonismo, emancipação e articulação com outros atores, intelectuais, técnicos, especialistas, políticos, ativistas, militantes da mesma ou de outras áreas, vem municiando suas teorias com a complexidade necessária, gerando explicações completas de mundo a partir de suas perspectivas presentes. Ao contrário do que muitos marxistas ortodoxos poderiam antecipar, esses novos paradigmas não excluem a perspectiva crítica histórico-dialética, mas a atualizam a partir de suas realidades, como defende LUCÁKS (2010).
O alinhamento que o movimento altermundista vem construindo através de seus encontros nos FSM, a sua recusa em abrir espaço para participação de partidos ou corporações, sua organização anti-hierárquica, participativa e autogestionada indicam muitas semelhanças com as idéias anarquistas. Mas no espaço do Fórum não se disputa por um consenso, sendo, portanto constituído lado a lado por anarquistas de diversas vertentes e marxistas de variadas filiações. Talvez Maurício TRATENBERG (2009) poderá nos auxiliar a entender a composição desse espaço, quando se reconhece como um marxista heterodoxo e em seguida nos apresenta Maxilian Rubel, que posiciona Marx como teórico do Anarquismo (RUBEL, 2012). As aproximações aqui esboçadas nos levam a acreditar que seremos muito mais fortes se os revolucionários incorporarem as propostas de alinhamento dos altermundistas, aceitando e respeitando seus diferentes dogmas e estratégias, a fim de coordenarem algumas ações, como em uma orquestra onde a diversidade dos instrumentos é preservada, mas o conjunto soa maravilhosamente harmônico atingindo a todos, músicos e público como um só chamamento à vida, à emoção, à razão, à luta e à revolução. A grande diferença é que nesta orquestra não há maestro e na noite de estréia, não haverá mais distinção entre músicos e público.
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[1] Este artigo foi produzido a convite da organização da IV Semana da Pedagogia UFSCar Sorocaba, realizada entre os dias 22 a 26 de outubro de 2012, para compor a mesa “Movimentos ambientais e educação ambiental: Um diálogo para além dos projetos temáticos”.
[2] Título provisório. PPGEd UFSCar Sorocaba (2012-14). Orientador: Zysman Neyman.
[3] A Cúpula dos Povos foi um encontro da sociedade civil, inspirado no Fórum Social Mundial, que aconteceu paralelamente e em contraposição à Conferência da ONU pelo Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), entre 15 a 22 de junho de 2012 no Rio de Janeiro.
[4] Entendemos como integrante da esquerda todo posicionamento contrário ao capitalismo, claramente formulado ou não, a partir de correntes partidárias, não partidárias, ou identitárias, em suas realizações teóricas ou práticas, manifestados por indivíduos ou grupos, configurados como coletivos, movimentos sociais, sindicais, estudantis, organizações não governamentais, entre outros.
[5] Como conseqüência das crises congênitas que o sistema apresenta, e que teve sua última e mais grave manifestação em 2008, poderia ser facilmente deduzida a falência do sistema capitalista. (SANTOS, 2011; ZIZEK, 2012; MÉSZÁROS, 2005; AGAMBEN, 2004; ARANTES, 2007)
[6] De acordo com Michel Löwy, o principal climatólogo estadunidense James Hansen, que inclusive trabalha para a NASA, “há alguns anos vem tocando o sinal de alarme, mas durante o governo do presidente George W. Bush tentaram proibi-lo de falar. Mandaram para ele um recado dizendo que ele era um funcionário do governo americano e que o que ele estava dizendo sobre o perigo do aquecimento global não era a linha do governo, o qual considera tudo isso uma bobagem. Pediam, por favor, que ele calasse a boca, e, mais que isso, afirmavam que estava proibido de falar. Um acontecimento sem precedente desde Galileu, quando a Inquisição ordenou a ele que não deveria dizer que a Terra se mexe, que estava proibido pela Igreja Católica.” (LÖWY, 2012, p 9)
[7] Participo do FSM desde 2005 e mais ativamente, como facilitador de etapas locais desde 2010, quando lançamos o Fórum Social São Paulo. Em 2011 participei da formação de uma equipe de facilitadores que iniciou o processo do FSM em Sorocaba. Também em 2011 integrei a equipe do Comitê Paulista Rumo à Cúpula dos Povos. Em 2012 participei do Fórum Social Temático, onde propusemos duas atividades, uma sobre Fóruns Locais e outra como o primeiro encontro dos Comitês Estaduais rumo à Cúpula dos Povos. Na Cúpula dos Povos participei diretamente da articulação de três atividades: um encontro que debateu os rumos do FSM em etapas Locais; a produção e articulação de uma Árvore dos Sonhos, que serviu como base de apoio para estimular diálogos com o público participante do evento e um grande encontro dos Comitês Estaduais, onde lançamos a continuidade da Cúpula como Fórum dos Povos. Paralelamente à Cúpula dos Povos aconteceu o II Fórum Mundial de Mídia Livre, onde junto com o francês Pierre George, principal protagonista das ações do Open WSF, lançamos a Rede de Facilitadores de Fóruns Locais
[8] Há diversas concepções que defendem tal relação, como a sociologia engajada praticada por Boaventura de Sousa Santos e a práxis da ação do materialismo histórico.
[9] Esse trecho também será publicado no artigo “Pós-modernidade libertária. Alguns desdobramentos do processo emancipatório de libertação da razão das amarras modernas no contexto da educação libertária”, que integrará os Anais do Colóquio Internacional de Educação Libertária: 100 anos da Escola Moderna, a ser realizado ainda em 2012 na Faculdade de Educação da USP.
[10] Em 23 de fevereiro de 1956, durante o XX Congresso do PCUS, Khrushchov chocaria a nação e o mundo ao fazer seu famoso “discurso secreto”, no qual acusava Josef Stalin do crime de genocídio durante os grandes expurgos realizados nos anos 1930 na URSS e denunciava o culto da personalidade que o cercava. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nikita_Khrushchov);
[11] Em 1966, o líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-tung e seus aliados lançaram a Revolução Cultural Chinesa, campanha político-ideológica, cujo objetivo era neutralizar a crescente oposição que lhe faziam alguns setores menos radicais do partido, em decorrência do fracasso do plano econômico Grande Salto Adiante (1958-1960), cujos efeitos acarretaram a morte de milhões de pessoas devido à fome generalizada, fato conhecido como a fome de 1958-1961 na China. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Cultural)
[12] 1989 queda do muro de Berlin e 1992 fim da URSS.
[13] Na década de 1970 intensifica-se um processo de fragmentação dos MS, visto a princípio como um enfraquecimento da força revolucionária da esquerda, que parecem por fim nas possibilidades de orquestração uma frente única, principalmente porque a fragmentação interna da IV Internacional já estava mais que consumada.
[14] Nas palavras de Gohn: “Todo ator pertence a uma classe social. Mas os atores muitas vezes se envolvem em frentes de luta que não dizem respeito, prioritariamente, a problemáticas da classe social, como as questões de gênero, étnicas, ecológicas, etc. Ou seja, grande parte dos eixos temáticos básicos dos movimentos sociais contemporâneos não diz respeito ao conflito de classe mas a conflitos entre atores da sociedade.” (GOHN, 2011: 249)
[15] Esse é o tema de um dos artigos que como este se desprende da pesquisa de mestrado e em breve será publicado. Nessa mesma perspectiva apresentari com mais três colegas (Giselli França, Luciana Balsamo e Michel Serigato), nesta IV Semana da Pedagogia UFSCar Sorocaba, o estudo de caso “BRÔ MC’s e os Mapas da Linguagem. Linguagem e processos de socialização do conhecimento em Mapas para a Festa, de Otto Maduro, a partir de análise do grupo de “rap indígena” Brô MC’s”.
[16] Com o fim da chamada “Guerra Fria” uma onda neoliberal tomou conta da nova ordem mundial, onde o socialismo não ameaçava mais o controle do imperialismo estadunidense e os mais entusiastas chegaram até a declarar o fim da história. O slogan vem do título do livro de Francis Fukuyama “O fim da história e o último homem”. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
[17] http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/agp/05primeirointercontinental.htm
[18] http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7%C3%A3o_Global_dos_Povos
[19] “Batalha de Seattle” é como ficaram conhecidas as manifestações que bloquearam as negociações em que o grupo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), pretendia realizar para legitimar uma espécie de Constituição Mundial do Capital e que iria impor aos países legislando sobre as relações internacionais de todos. O sucesso dos protestos nas ruas de Seattle mostrou ao mundo a força que os movimentos sociais podem ter quando atuam em sintonia. Os próximos encontros internacionais organizados pela cúpula da Organização Mundial do Comércio, conhecidos como Fórum Econômico Mundial aconteceriam em Davos, nos Alpes Suíços, garantindo a restrição do acesso e impossibilitando que novos protestos atrapalhassem seus acordos totalitários. No calor dos acontecimentos, ainda em 1999, Edgard Morin publica um artigo em que situa a Batalha de Seattle como evento que inaugura o século XXI, dando sequencia à marcação sugerida por Eroick Hobsbawn, onde o “Breve século XX” teria terminado em 1992 com o fim da URSS. (MORIN, 1999)
[20] O Fórum Social Mundial surge como contraposição ao neoliberalismo e seu principal espaço de articulação internacional, o Fórum Econômico Mundial, que acontece anualmente em Davos, nos Alpes Suíços. Enquanto os poucos políticos e empresários que se encontram às portas fechadas em um resort definem – a partir de seus interesses individuais, da lógica da exploração e do lucro -, os rumos que imporão à política planetária, no encontro de Porto Alegre o debate é dialógico, autogestionado, aberto à participação e busca respeitar a diversidade de povos, movimentos, opiniões e posições ideológicas. Os movimentos sociais do mundo inteiro que participam desse novo espaço de articulação tem em comum a clara identificação do atual sistema hegemônico, o capitalismo neoliberal, como a causa que empurra a humanidade e o planeta ao abismo e contra a qual unimos nossas forças. Ver artigo de minha autoria publicado no site do Fórum Social Sorocaba: www.forumsocialsorocaba.org.br. Há ótimos livros que analisam o encontro sob diversos enfoques, como o já citado de Boaventura de Sousa Santos (SANTOS, 2005) e o de Francisco Whitaker – um dos idealizadores do FSM – “O desafio do Fórum Social Mundial” (WHITAKER, 2005).
[21] A Batalha de Seattle. EUA, 2007, 99 min. Direção: Stuart Townsend. Trailler disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=PPD0depdyNc
[22] Programação disponível em: www.forumsocialsorocaba.org.br
[23] http://www.forummundialeducacao.org/