Fórum Social de São Paulo

O Fórum Social de São Paulo, que se inscreve no processo do Fórum Social Mundial, é um grande encontro de organizações e movimentos da Grande São Paulo com o objetivo de:

  • Garantir uma ampla mobilização da sociedade civil para fortalecer a resistência, aprofundar as alianças e produzir conteúdo na construção de alternativas para a crise global, em especial nas questões das cidades;
  • Viabilizar os encontros e facilitar a criação e a multiplicação das redes de relações e das alianças com que o Fórum se concretiza.

Para:

  • Tornar mais visível, aos moradores da cidade, tudo que vem sendo feito e ainda pode ser feito pela sociedade civil para melhorar as condições e a qualidade de vida de todos;
  • Facilitar o reconhecimento e o apoio mútuo entre esses movimentos e organizações, e a descoberta de convergências em suas ações;
  • Estimular, por essa descoberta, o lançamento de ações conjuntas para resolver os graves problemas enfrentados pelos moradores da Grande São Paulo;
  • Estimular a mobilização desses moradores para a realização dos objetivos dessas ações, por meio do seu engajamento nas mesmas como cidadãos ativos e solidários.

A iniciativa de organizar esse Fórum partiu do Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo do Forum Social Mundial – GRAP, formado principalmente por membros do Comitê Organizador do primeiro Forum Social Mundial em 2001 em Porto Alegre, que são atualmente membros do Conselho Internacional do FSM. Convidando outras pessoas e organizações a realizar o Fórum, esse núcleo inicial discutiu longamente, em grupos de trabalho e em plenárias, a metodologia a usar nesse tipo de iniciativa em nível local. Várias propostas foram analisadas, tendo-se chegado finalmente àquela que será adotada no Fórum, cuja data de realização foi fixada em 29 e 30 de Outubro de 2011, considerando que ele será o primeiro de uma série a se realizar a cada dois anos.

  1. Para entender melhor o Fórum Social de São Paulo
    1. O que é o Fórum Social de São Paulo?
    2. Qual a relação entre o Fórum Social de São Paulo e o Fórum Social Mundial?
    3. Por que se diz “processo” do FSM?
    4. Por que realizar o Fórum Social de São Paulo?
    5. Qual é o objetivo último do processo do Fórum Social Mundial e do Fórum de São Paulo?
    6. Quem está organizando esse Fórum?
    7. Como participar do Fórum Social de São Paulo?
    8. Quem pode propor e inscrever atividades no Fórum Social de São Paulo?
    1. Para entender melhor o que é o processo do Fórum Social Mundial
      1. Por que foi organizado o Fórum Social Mundial?
      2. Um “Fórum Social” é diferente de outros Fóruns?
      3. Quais são as diferenças quanto à metodologia utilizada?
      4. O que é a Carta de Princípios do FSM?
      5. Os Fóruns Sociais são uma atividade política?
      6. Por que partidos e governos não podem participar dos Fóruns Sociais?
      7. O processo do Fórum Social Mundial é um novo movimento ou um “movimento dos movimentos”?
      8. Se é assim, os Fóruns Sociais não tem dirigentes?
      9. Como os Fóruns Sociais fortalecem a sociedade civil?
      10. Os Fóruns Sociais não têm declarações finais?
      11. Da competição à cooperação: a reeducação necessária

    I – Para entender melhor o Fórum Social de São Paulo

    1.O que é o Fórum Social de São Paulo?

    O Fórum Social de São Paulo é um grande encontro de organizações da sociedade civil, cidadãos e cidadãs, para contar o que fazem frente aos problemas dessa cidade, debater soluções e fazer propostas de ação para resolvê-los.

    A “cidade” a que o Fórum se refere compreende o conjunto de municípios que compõem a região metropolitana de São Paulo. Ou seja, ele é um Fórum da Grande São Paulo.

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    2.Qual a relação entre o Fórum Social de São Paulo e o Fórum Social Mundial?

    Depois do primeiro Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre em 2001, foram organizados outros Fóruns Sociais Mundiais no Brasil e em outros países, assim como muitos Fóruns Sociais em nível regional, nacional ou local, pelo mundo afora. O Fórum Social de São Paulo, que é em nível local, é mais um Fórum que se insere nesse processo.

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    3.Por que se diz “processo” do FSM?

    Um dos objetivos dos Fóruns Sociais é favorecer a intercomunicação entre seus participantes para que: conheçam mais uns aos outros, superem preconceitos e separações que existam entre eles, descubram convergências em suas ações e promovam novas iniciativas menos isoladas umas das outras, o que lhes dará mais força.

    Em cada Fórum realizado surgem então novas articulações e redes, interligando seus participantes, que se expandem e se consolidam nos espaços de tempo entre os Fóruns realizados. Com isso, eles deixam de ser eventos isolados para se transformarem em momentos especiais de um processo contiínuo de multiplicação de conexões entre seus participantes mundo afora.

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    4. Por que realizar o Fórum Social de São Paulo?

    São Paulo está longe de ser a cidade que gostaríamos que fosse: com habitações dignas para todos, servidas por serviços de água, esgoto e eletricidade; transporte coletivo rápido e cômodo para todas as suas regiões; serviços públicos de qualidade, acessíveis a todos, para o atendimento das necessidades de saúde e de educação, em todos os níveis e para todas as idades; com oferta de trabalho e emprego em todo o seu território; áreas verdes e de lazer, esporte, arte e cultura em toda parte; com possibilidades de convívio solidário; sem violência nem insegurança nas ruas e nas casas; sem poluição do ar e dos rios nem congestionamentos de trânsito; sem enchentes; sem segregações nem discriminações sociais; com possibilidade de participação de todos os seus cidadãos nas decisões das diversas instituições de governo municipal.

    Em vez disso, São Paulo tem grandes carências em todos esses aspectos e grandes desníveis na qualidade de vida de seus bairros, refletindo a desigualdade social gritante que existe em nosso país. É preciso, portanto, fazer com que “o direito à cidade, em toda a sua riqueza e diversidade, seja uma realidade para todos os seus habitantes” (ver, ao final destas informações, a Carta de Princípios do Fórum Social de São Paulo).

    O lema do Fórum Social de São Paulo explica bem por que realizá-lo: “uma outra São Paulo é possível, necessária e urgente. O que fazer?”

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    5. Qual é o objetivo último do processo do Fórum Social Mundial e do Fórum de São Paulo?

    O processo do Fórum Social Mundial visa, como objetivo último, construir um mundo livre da lógida capitalista que, pelo processo de globalização, comandado pelo dinheiro desde a queda do Muro de Berlim, vem aumentando as desigualdades sociais e encaminhando o planeta para sua auto-destruição.

    Nesse quadro, o Fórum Social de São Paulo pretende ajudar os cidadãos e cidadãs a superar o domínio da nossa cidade por essa lógica, que atualmente transforma todas as necessidades de seus habitantes em negócio, em benefício dos que tem mais dinheiro. Por isso mesmo, a questão central que permeará as atividades no Fórum é a seguinte: o que fazer para que o interesse público e os direitos dos cidadãos e cidadãs da Grande São prevaleçam sobre os interesses do lucro e do dinheiro?

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    6.Quem está organizando esse Fórum?

    Um grupo de pessoas e organizações convidadas pelo GRAP, constituido pelos organizadores do primeiro Fórum Social Mundial de 2001. Esse Grupo, chamado “Grupo Facilitador do Fórum Social de São Paulo”, convidou outras pessoas e organizações que constituíram um “Coletivo de Articulação do Fórum Social de São Paulo”, e que está permanentemente aberto à participação de todos os interessados em colaborar.

    Os integrantes desse Coletivo se organizam em Grupos de Trabalho com tarefas especificas: metodologia, comunicação, recursos, mobilização, etc., segundo as necessidades. A participação nesses GTs é também aberta a todos os interessados em colaborar.

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    7. Como participar do Fórum Social de São Paulo?

    Todas as pessoas e organizações interessadas nos objetivos do Fórum podem participar, seja comparecendo ao local em que se realizará e acompanhando as atividades que lhes interessarem, seja organizando atividades sob sua reponsabilidade, seja participando das discussões que se façam, antes do Fórum, em torno de temas específicos.

    O Fórum Social de São Paulo comportará dois tipos de atividades, a se desenvolverem durante um fim de semana: as atividades autogestionadas livres, propostas pelos próprios participantes, e as atividades autogestionadas em torno de eixos especificos, que compreendem todas as questões que devem ser tratadas na solução dos problemas da cidade.

    As atividades livres serão programadas pelos organizadores do Fórum a partir das inscrições que seus participantes façam. Estes podem se propor a desenvolvê-las como o desejarem, no espaço em que o Fórum acontecerá: debates, seminários, festas, passeatas, apresentações teatrais, musicais ou literárias, exposições, atos públicos de denúncia ou mobilização, entrevistas à imprensa, iniciativas judiciais, apresentação de propostas, lançamento de campanhas, coletas de assinaturas, relatos de iniciativas, estudos e pesquisas.

    As atividades em torno de eixos específicos terão o formato de oficinas temáticas, para a apresentação dos resultados de discussões e encontros que se façam, ao longo de setembro e outubro, por pessoas e organizações, em torno dos temas que tenham escolhido. Elas poderão fazer essa apresentação também da forma que decidirem, como nas atividades autogestionadas livres. Sendo um Fórum local, os participantes poderão se encontrar mais facilmente para essas discussões antes do Fórum, diferentemente do que acontece nos Fórums Mundiais, regionais ou nacionais. Isto facilitará também a continuidade, depois do Fórum, das articulações nele nascidas.

    Todas as inscrições de atividades serão feitas através do site do FSSP.

    Aqueles que o desejarem podem também participar se integrando aos Grupos de Trabalho necessários para que o FSSP de fato aconteça e atinja seus objetivos. Informações sobre essas possibilidades também estão disponíveis no site.

    Por fim, os interessados podem participar contribuindo com recursos para a realização do Fórum, conforme indicação no site.

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    8.Quem pode propor e inscrever atividades no Fórum Social de São Paulo?

    Os Fóruns Sociais são abertos a pessoas e organizações, mas somente organizações podem propor e inscrever atividades autogestionadas livres, para que se valorize a ação dos que se juntam a outros para agir, mais eficaz do que iniciativas individuais. Pessoas isoladas podem, no entanto, se juntar a outras nas discussões em torno dos temas definidos para as atividades que resultarão em oficinas temáticas. E o Forum estará aberto, nos dias de sua realização, a todos os interessados.

    Por organizações compreendemos grupos da sociedade civil organizada, ou seja, associações, sindicatos, movimentos sociais, coletivos, etc.. Segundo a Carta de Princípios do FSM, nem partidos nem governos podem propor atividades, embora seus membros possam ser convidados para participar, em nome pessoal, pelas organizações da sociedade civil (ver mais adiante o que é a Carta de Princípios e por que foi tomada essa orientação).

    Empresas que tenham fins lucrativos também não podem propor atividades, embora seus proprietários ou dirigentes possam participar a título pessoal. Nos Fóruns Sociais se discute como libertar a sociedade da lógica do lucro (ver mais adiante as origens do processo do Fórum Social Mundial). Seria um contra-senso, portanto, permitir que sejam utilizados como espaço de propaganda e comércio com fins lucrativos.

    A Carta de Princípios do Fórum Social Mundial exclui também a participação de organizações e movimentos que optaram pela violência em seus métodos de ação política.

    Consideradas estas exclusões, são bem vindos ao Fórum Social de São Paulo todos que se interessarem pelos seus objetivos e quiserem se associar à sua realização. O Fórum estará aberto também à participação de pessoas e organizações de outros lugares do Brasil e do mundo.

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    II . Para entender melhor o que é o processo do Fórum Social Mundial

    1.Por que foi organizado o Fórum Social Mundial?

    O primeiro “Fórum Social Mundial” foi organizado como um Fórum alternativo ao “Fórum Econômico Mundial”, que vem se realizando há mais de vinte anos na cidade suíça de Davos, reunindo dirigentes de grandes empresas, de multinacionais e dos países mais ricos do mundo, assim como intelectuais a seu serviço.

    No Fórum Social Mundial se reuniriam aqueles que fossem contrários ao processo de globalização em curso, submetido aos interesses do dinheiro e da acumulação de capital e à lógica dos mercados, e que considerassem que a economia e a política devem se centrar no atendimento das necessidades dos seres humanos. Seus organizadores decidiram realizar esse encontro nas mesmas datas do Fórum de Davos, para mostrar claramente ao mundo que existia esperança de mudança e que já havia muita gente no mundo agindo para isso.

    Os participantes desse primeiro Fórum e dos que a ele se seguiram são, portanto, organizações e pessoas que acreditam que “outro mundo é possível” e lutam para que ele seja construído.

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    2.Um “Fórum Social” é diferente de outros Fóruns?

    Os “Fóruns Sociais”, nascidos do primeiro Fórum Social Mundial, são um tipo de Fórum diferente daqueles a que estamos habituados. Eles estão sempre voltados à construção do “outro mundo possível”. Mas esta pode ser também a perspectiva de outros Fóruns que se realizem, promovidos por diferentes instituições. O que então os diferencia é, em primeiro lugar, o modo de montar seus programas de atividades.

    Nos Fóruns a que estamos acostumados seus promotores escolhem palestrantes, conferencistas e participantes de painéis sobre determinados temas, definem um programa e convidam os interessados em ouvir e eventualmente debater com esses palestrantes e conferencistas. Eles são montados, portanto, de cima para baixo.

    Nos Fóruns “Sociais” o programa é montado com atividades propostas pelos próprios participantes. É o principio da auto-organização de atividades. Este princípio se tornou uma característica dos Fóruns Sociais, e já começou a ser adotado em muitos outros Fóruns. Os participantes se inscrevem dizendo o que gostariam de tratar e como o fariam, e os organizadores definem o programa distribuindo essas atividades no tempo e no espaço do Fórum. Eles são montados, portanto, de baixo para cima. Por isso seus organizadores começaram, a partir de certo momento no processo, a se autodenominarem “facilitadores”. Eles não organizam atividades sob sua responsabilidade; só preparam os espaços em que as atividades propostas possam ser realizadas.

    Mas há diferenças também quanto à metodologia utilizada.

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    3.Quais são as diferenças quanto à metodologia utilizada?

    Nos Fóruns em geral visa-se difundir e aprofundar conhecimentos. Nos Fóruns Sociais visa-se a ação. Nos fóruns em geral, basta debater análises e informações. Nos Sociais é preciso também discutir o que fazer e procurar chegar a planos concretos de ação, de forma isolada ou articulada com outros, para transformar o mundo. Os Fóruns em geral são espaços de comunicação. Os Sociais são espaços de intercomunicação, para trocar experiências, reconhecer-se mutuamente, aprender uns com os outros, identificar convergências que levem a ações conjuntas. Neles são previstos, portanto, espaços e instrumentos para estes tipos de discussão e para a construção de alianças entre seus participantes.

    Para que isso seja possível, a metodologia utilizada nos Fóruns Sociais assegura a horizontalidade nas relações entre seus participantes. Todas as atividades neles desenvolvidas têm a mesma importância e nenhuma ganha posição privilegiada.

    Esta metodologia foi aprimorada a partir da a experiência dos Fóruns realizados ao longo dos últimos dez anos, respeitando a Carta de Princípios do FSM.

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    4.O que é a Carta de Princípios do FSM?

    Como o primeiro Fórum Social Mundial realizado em 2001 teve uma projeção muito maior do que a esperada, seus organizadores consideraram que o sucesso dos seguintes – que se tornaram necessários a partir da primeira edição – poderia ser assegurado se fosse utilizada a mesma metodologia do primeiro.

    Eles elaboraram então uma Carta de Princípios, com as lições aprendidas no primeiro Fórum e com a sistematização das orientações básicas da metodologia nele utilizada. Essa Carta de Princípios é hoje a referência básica dos Fóruns Sociais que se realizam mundo afora, em todos os níveis.

    Em vários Fóruns seus organizadores a completam, respeitando-a, com orientações mais específicas ao Fórum que organizam. Tal foi o caso do Fórum Social de São Paulo, que tem também sua Carta especifica (ver essa Carta no final destas informações).

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    5.Os Fóruns Sociais são uma atividade política?

    Sim, na medida em que se entenda política como processo decisório sobre o que interessa à vida de uma coletividade. Os Fóruns Sociais estão diretamente voltados à busca de soluções para os problemas sociais que enfrentamos.

    Mas esse modo de entender política não a reduz à atividade político-partidária, nem a coloca a serviço de outras organizações da sociedade civil. A Carta de Princípios do Fórum Social de São Paulo o explicitou claramente, retomando princípios da Carta do FSM. Ela diz, em seu item 3: O Fórum Social de São Paulo não se vincula a partidos, governos, igrejas ou organizações sociais particulares. Seus encontros e articulações são abertos a todos que compartilhem seus objetivos e aceitem a presente Carta de Princípios. Partidos e governos não podem participar enquanto tais dos seus encontros e redes.

    Isto quer dizer que nem partidos nem governos podem, enquanto tais, propor e realizar atividades nos Fóruns Sociais, mas seus membros podem participar dos Fóruns a título pessoal, convidados por organizações da sociedade civil.

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    6.Por que partidos e governos não podem participar dos Fóruns Sociais?

    Quando o primeiro Fórum Social Mundial foi organizado, em 2001, um novo ator político emergia no mundo e vinha obtendo vitórias nas lutas em que se engajava. Foi o caso, por exemplo, das manifestações contra a OMC, em Seattle, Estados Unidos, em 1999. Era o que se chamava genericamente de “sociedade civil”, que compreendia um número muito grande e diversificado de organizações, como movimentos sociais, sindicatos e associações sem fins lucrativos. Esse novo ator mostrava que tinha uma grande força transformadora, ao agir de forma independente de partidos e governos – que muito freqüentemente o manipulam para realizar seus próprios objetivos. Os organizadores do Fórum Social Mundial decidiram então reservá-lo para a sociedade civil, para que esta pudesse se fortalecer com autonomia.

    A restrição à presença de partidos e governos enquanto tais, no Fórum, foi adotada porque se considerava que eles poderiam introduzir na dinâmica do Fórum a luta por hegemonia e poder, o que dificultaria a horizontalidade nas relações entre seus participantes, necessária a uma real intercomunicação.

    Essa preocupação foi explicitada na Carta de Princípios do FSM, e retomada na do FFSP: 6. O Fórum Social da Grande São Paulo não é um espaço de disputas de poder.

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    7.O processo do Fórum Social Mundial é um novo movimento ou um “movimento dos movimentos”?

    Embora seja uma atividade política, o FSM não se transformou num novo movimento político ou, como se chegou a propor, num “movimento de movimentos”, e menos ainda num partido. À medida em que os Fóruns Sociais foram articulados, ficou cada vez mais claro que era preciso mantê-los, acima de tudo, como simples espaços, e como espaços abertos, sem dirigentes nem grupos políticos que os controlem. Tais direções são necessárias em movimentos e partidos, mas não em ocasiões e momentos de encontro, reflexão e debate que sejam organizados para que se possa pensar antes de agir. Em tais ocasiões e momentos, a reflexão será mais livre se não for necessário definir planos ou diretrizes que passem a orientar a ação de todos.

    Assim, optou-se, na organização dos Fóruns Sociais, que os que neles se encontrem, discutam e analisem as lutas em que estão engajados e adotem orientações para sua ação, sem que tais orientações venham de centros de poder dentro dos Fóruns nem precisem ser assumidas por todos. Cada organização ou grupo de organizações adotará, entre as diretrizes e planos discutidos ou propostos nos Fóruns Sociais, somente aqueles que considerem possível assumir em sua ação depois dos Fóruns. E cada novo Fórum que se realize será um novo espaço que se abra para essa reflexão.

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    8.Se é assim, o Fóruns Sociais não tem dirigentes?

    Os Fóruns Sociais não elegem Presidente, Secretário, Tesoureiro. A regra básica que os organizadores do primeiro Fórum Social Mundial estabeleceram para reger seu relacionamento é retomada na Carta de Princípios do Fórum Social de São Paulo: 5. O Fórum Social de São Paulo não tem dirigentes ou porta-vozes. Seus “facilitadores” trabalham como um coletivo corresponsável, em que a relação entre seus membros é horizontal. Por outro lado, nenhum deles é profissional contratado para a promoção de eventos, seu trabalho sendo custeado pela sua própria organização, como uma contribuição que ela dá à realização dos Fóruns.

    Esta regra se insere na mesma lógica da horizontalidade e da preocupação em evitar disputas pelo poder dentro do processo FSM, explicitadas na sua carta de Princípios. Por isso a Carta do FSSP diz em seu item 6: O Fórum Social de São Paulo não é um espaço de disputas de poder; está a serviço do processo de cidadania ativa que ele estimula. Toda colaboração ao seu trabalho será, portanto, sempre bem vinda.

    Nessa perspectiva, as decisões tomadas pelas diferentes instâncias de facilitação dos Fóruns Sociais (Coletivos e Grupos de Trabalho e Facilitação) são tomadas por consenso, cuja construção exige que ouçamos os argumentos daqueles de quem divergimos, para descobrir neles as verdades que podem ser combinadas com as verdades nas quais acreditamos.

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    9.Como os Fóruns Sociais fortalecem a sociedade civil?

    A metodologia adotada nos Fóruns Sociais, baseada na intercomunicação horizontal, considerou que a grande debilidade da sociedade civil como ator político é sua extrema fragmentação, determinada pela multiplicidade e diversidade de seus componentes. Mas se sua força depende de sua união, como construí-la?

    O ponto de partida da resposta dada a essa questão foi a de que a multiplicidade e a diversidade interna a esse novo ator político eram uma riqueza a explorar e não um problema a resolver. A construção do “outro mundo possível” exige muita diversidade e multiplicidade de ações, assim como muita criatividade, para que as transformações se processem em todos os níveis e em todos os aspectos da vida coletiva, submetidas atualmente, no mundo todo, à lógica do dinheiro. É preciso, portanto, que a união a ser construída não limite a capacidade de iniciativa da sociedade nem castre sua inventividade ou a pretenda homogênea. Ela deve, pelo contrário, respeitar sua diversidade e multiplicar as livres conexões entre os cidadãos e cidadãs, que levem a um adensamento cada vez maior de um tecido social diversificado.

    Esse resultado não poderia ser obtido organizando esse novo ator político com estruturas piramidais como as tradicionalmente utilizadas nos movimentos e partidos políticos. Nestes, seus “militantes” precisam ser disciplinados e obedecer, como nos exércitos, as ordens ou diretrizes que venham da cúpula – sejam elas adotadas democrática ou autoritariamente. Para a construção de sua união a sociedade civil deveria se estruturar segundo o novo modo de organização social e política que também emergia no mundo, e que era exatamente o que lhe atribuía mais força: a organização em rede, a interligação horizontal dos que a ela se integram. Em redes não há chefes, comandos unificados e níveis de poder que se afunilam, da base até a cúpula, como nas pirâmides. Seus integrantes têm diferentes funções e todos são corresponsáveis pelo conjunto.

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    10.Os Fóruns Sociais não tem declarações finais?

    Os Fóruns Sociais não funcionam, dentro da lógica das redes, como congressos de partidos ou assembléias de movimentos, que em geral terminam com declarações finais, endossadas por todos os seus participantes ou pela sua maioria. Tais declarações, preparadas democraticamente ou não e adotadas por votação ou aclamação, são como ordens que vem de cima, na medida em que pretendem orientar unitariamente a ação de todos, cujas posições terão sido sintetizadas – e necessariamente empobrecidas – nessas declarações.

    Para que se respeite a diversidade e se incentive a criatividade e a iniciativa, nos Fóruns Sociais não se adota uma declaração final única, de cada Fórum enquanto Fórum, nem mesmo moções aprovadas por seus participantes. Em vez disso, neles emergem muitos documentos e declarações finais. Os participantes que, antes dos Fóruns ou no seu transcorrer, encontraram novas necessidades e possibilidades de ação, isoladamente ou em conjunto com outros, a partir de convergências que os unam, podem querer tornar públicos os compromissos que assumiram. Mas esses compromissos engajam somente aqueles que a eles aderirem.

    Isso foi também explicitado nas Cartas de Princípios do FSM e do FSSP: O Fórum Social de São Paulo não toma posições enquanto Fórum e seus encontros não têm documentos finais únicos conclusivos. Fica assegurada entretanto a divulgação pelos seus participantes de documentos e tomadas de posição em seu próprio nome e sob sua própria responsabilidade, no quadro do Fórum mas não em nome dele.

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    11. Da competição à cooperação: a reeducação necessária

    A combinação de todas essas opções – que compõem o que no processo do FSM é chamado de nova cultura política – contesta e enfrenta de fato uma das dinâmicas fundamentais do sistema político e econômico que se quer superar: a competição. Essa dinâmica é o motor básico da criação de riqueza material no sistema capitalista em que vivemos, porque estimula a capacidade empreendedora dos agentes desse sistema. Mas ela penetra em todos os nossos comportamentos e orienta a vida de todos, até no lazer coletivo. Como um condicionamento, pode passar a orientar nossa própria forma de atuar politicamente, tornando-se o mecanismo fundamental que enfraquece a força política dos que lutam pela superação do sistema dominante, ao dificultar sua união e provocar sua divisão.

    O “outro mundo” que queremos só será efetivamente “possível” se a dinâmica fundamental que nele mobilize os seres humanos for exatamente inversa à competição, isto é, for a cooperação. Por outro lado, como os meios usados para atingir determinado fim moldam os resultados que se obtém, o próprio processo de construção do “outro mundo” tem que se desenvolver dentro de uma dinâmica de cooperação e não de competição entre os que nele se engajam.

    Em síntese, só a cooperação permitirá construir uma união que respeite a diversidade e nos dê realmente força, e só ela poderá realmente nos levar a um mundo diferente do que vivemos.

    Os Fóruns Sociais se tornam assim momentos privilegiados de experimentação pessoal da cooperação, com a mudança interior que ela exige, para a reeducação a que estamos todos obrigados, “aprendendo a desaprender”, uma vez que “a dificuldade não é compreender as idéias novas mas se libertar das idéias velhas”. O papel pedagógico dos Fóruns Sociais é assim tão importante como o de permitir que se compreenda melhor a realidade e sejam identificadas ações eficazes para transformá-la.

    Texto revisto da primeira proposta de redação feita por Chico Whitaker em 3 de outubro de 2010.

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