1. Histórico da constituição do Coletivo
Quando perguntamos “quem organiza” alguma atividade, pensamos logo num grupo de pessoas que têm as “rédeas” da atividade nas mãos. Quando se quer escapar do tradicional, diz-se que a atividade é realizada por um “Comitê de Organização”. Assim esses supostos “donos” aparecerão como um coletivo… Mas como o problema por detrás é o do poder, abre-se a luta pela composição desse coletivo, ou seja, pela sua ”representatividade”… Porque, no final das contas, é efetivamente esse Comitê que decidirá como ocorrerá a atividade.
Os primeiros Fóruns Sociais Mundiais foram construídos por um “Comitê de organização”, com representantes das oito organizações brasileiras que decidiram lançar essa iniciativa. Mas ela tinha uma natureza especial. Não eram Fóruns como os outros, nem eram assembléias ou congressos, organizados pelos seus dirigentes. Eram somente “espaços” de encontro, postos à disposição dos interessados. As oito organizações puderam então afirmar que não pretendiam representar ninguém, mas somente prestar o serviço de abrir esses espaços.
Ao longo de dez anos de Fóruns realizados, foi se consolidando sua característica principal: a auto-organização das atividades que neles se desenvolvem. Chegou-se então a um nome melhor para definir o trabalho de quem os organiza: “Comitê de Facilitação”. Hoje em dia é esse o nome dado, nos Fóruns Mundiais, ao grupo de pessoas que assumem a responsabilidade, em nome de suas organizações, de “criar” os “espaços abertos” dos Fóruns.
Em São Paulo, tudo começou com membros do Comitê de Organização (hoje de Facilitação) dos Fóruns Sociais Mundiais lançarem a idéia de se fazer um Fórum Social Local em nossa cidade. Eles não faziam senão atender à tendência mundial de enraizar mais a dinâmica desses Fóruns, para que a nova cultura política visada possa ter bases reais na sociedade.
No espírito do que ocorria nos Fóruns Mundiais, eles se autodenominaram “Grupo de Facilitação” do Fórum Social de São Paulo, montaram um Escritório para o apoio administrativo e as tarefas de comunicação interna e elaboraram uma Carta de Princípios desse Fórum, baseada na Carta de Princípios do Fórum Social Mundial.
Mas pouco a pouco eles foram descobrindo as especificidades dos Fóruns Locais, em que todos os participantes (ou sua maioria) moram na mesma cidade, o que permite que possam se “encontrar” ao longo do tempo antes do Fórum propriamente dito. Pensaram então em estruturar o Fórum Social de São Paulo em dois tempos: um primeiro com atividades descentralizadas, desde o seu lançamento, e no final um evento centralizado.
Viram também que esses mesmos participantes poderiam contribuir ao longo desse tempo para que o “espaço aberto” do Fórum, nos seus dois tempos, cumprisse da melhor forma possível seu papel (em vez de deixar isso por conta de um longínquo Comitê de Facilitação que um dia possa dizer: podem vir que o espaço está pronto para recebê-los – como ocorre com os Fóruns Mundiais).
Convidaram então outras organizações para compartilhar as responsabilidades de realização do Fórum. E viram que essa co-responsabilização já ajudava a atingir um dos seus objetivos, que é o de estimular a “articulação” entre as organizações da cidade. Criaram então o que chamaram de “Coletivo de Articulação”, composto pelas organizações que responderam a esse convite. E colocaram seu Escritório de apoio a serviço também desse Coletivo.
As organizações do Coletivo formaram então vários Grupos de Trabalho, de acordo com as necessidades identificadas pelo Coletivo de Aticulação. Por sua vez, o Grupo de Facilitação inicial, autor da proposta, se desfez. Agora, os Grupos de Trabalho desenvolvem e executam as tarefas organizacionais, e se reunem num grupo carinhosamente apelidado de “Grupo do Piano”. As decisões relativas à orientação geral do processo têm que ter necessariamente o apoio – consensual – de todas as organizações que o compõem.
Em conclusão: quem organiza o Fórum Social de São Paulo? Todos os que se participarem do seu Coletivo de Articulação e se engajarem nos diferentes Grupos de Trabalho que foram criados.
O que vivemos de fato, dentro do processo do Fórum Social de São Paulo, é uma descoberta progressiva do que pode ser uma prática de co-responsabilidade e cooperação, prestação de serviço e construção coletiva, sem competição nem luta pelo poder, de acordo com a Carta de Princípios do Fórum Social Mundial e do Fórum Social de São Paulo.